OMS declara emergência mundial por microcefalia, mas não veta viagens ao Brasil

Mãe segura menina diagnosticada com microcefalia em PE

 

A OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou emergência internacional em saúde pública devido ao aumento de casos de microcefalia e doenças neurológicas e à suspeita de ligação deles com o vírus da zika.

A medida reforça o alerta sobre o avanço do vírus, e as atenções se voltam para o Brasil, que registra, desde outubro, um avanço no número de casos da má-formação.

Segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, com dados até 23 de janeiro, há 3.448 registros suspeitos e 270 confirmados.

A decisão da OMS ocorre após reunião de um comitê de especialistas convocado para discutir o tema.

A diretora da organização, Margareth Chan, classificou o atual surto de microcefalia e ocorrências de doenças neurológicas no Brasil, assim como na Polinésia Francesa, como "evento extraordinário" e "ameaça à saúde pública".

Segundo ela, a relação entre o zika e os casos da má-formação, embora ainda não comprovada cientificamente, é "fortemente suspeita".

A decisão da OMS não restringe viagens ou comércio, principal preocupação do governo brasileiro diante da proximidade das Olimpíadas.

No momento, diz a entidade, as medidas mais importantes são o controle do mosquito e prevenção de picadas em pessoas mais vulneráveis, especialmente grávidas.

Para as gestantes, a recomendação é que adiem viagens aos países mais afetados —–caso do Brasil— e usem roupa de manga comprida.

O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, admitiu que o anúncio da OMS pode afetar no curto prazo a vinda de estrangeiros ao Brasil. "Deve haver um recolhimento [de turistas] em relação aos países com casos de zika vírus."

Ele afirmou, porém, que a situação deve ser revertida no longo prazo com as campanhas de esclarecimento e não deve prejudicar a presença de estrangeiros na Olimpíada.

Wagner disse ainda que, devido ao ineditismo da situação, tanto o governo como a sociedade brasileira ainda estão em uma fase de "absoluta perplexidade".

Na prática, a declaração da OMS pode acelerar a pesquisa para testes de diagnóstico rápido do zika e vacinas —há estudos sobre uma imunização, mas ela não deve ficar pronta antes de três anos, de acordo com o governo.

Segundo David Heymann, presidente da reunião da OMS, a declaração de emergência não se deve só ao zika, uma vez que, por si só, o quadro de infecção pelo vírus é considerado de baixa gravidade. Assintomático em 80% dos casos, ele pode causar manchas vermelhas pelo corpo, coceira e febre baixa

A emergência se deve ao risco de complicações —caso de doenças neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, e a microcefalia.

A última vez que a OMS decretou emergência global foi devido ao ebola. A mesma classificação recebeu a epidemia de gripe H1N1 e a pólio.

O zika já atinge 25 países e territórios das Américas.

O Brasil é o país mais afetado. A estimativa do Ministério da Saúde é que o vírus tenha infectado de 500 mil a 1,5 milhão de pessoas no último ano.

Agora, o ministério vai tornar a doença de notificação compulsória, uniformizando os registros dos Estados. Com a mudança, casos passam a ser notificados após diagnóstico clínico ou exames que identifiquem o zika.

Além disso, como antecipou a Folha, a presidente Dilma Rousseff enviou medida provisória ao Congresso que autoriza agentes de saúde a entrarem de maneira forçada em áreas privadas abandonadas ou fechadas para combater focos do Aedes.

 

SÃO PAULO

Também nesta segunda (1), o governo de São Paulo confirmou o segundo caso de zika em grávidas no Estado, em Piracicaba (a 160 km de SP). Por ora, não foram vistas anomalias no ultrassom. Há 17 suspeitas em apuração no Estado.

 

Voos em áreas de zika levaram 9,9 milhões ao exterior
 

Uma equipe de pesquisadores internacionais fez uma projeção de como o vírus da zika deve se espalhar para as Américas, a Europa e a Ásia a partir do Brasil. O mapa foi publicado na revista "The Lancet".

Nessa segunda-feira (1º), a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou emergência em saúde pública por causa de um surto microcefalia, má-formação do cérebro cuja ligação com o vírus zika é fortemente suspeita.

Eles identificaram o destino final de 9,9 milhões de viajantes de voos internacionais que saíram de aeroportos no Brasil entre setembro de 2014 e agosto de 2015. Foram considerados terminais localizados num raio de até 50 km de áreas com transmissão de zika.

A maioria desses viajantes (65%) seguiu para as Américas, 27% para a Europa e 5% para a Ásia. Em volume de passageiros, os Estados Unidos lideram (2,7 milhões), seguidos da Argentina (1,3 milhão). Na Europa, a Itália é o principal destino, com 420 mil passageiros, seguida por Portugal (411 mil).

Na Ásia e na África, China (84 mil) e Angola (82 mil) receberam, respectivamente, o maior volume de passageiros saídos de aeroportos brasileiros. 

A equipe mapeou também a "geografia" dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, capazes de transmitir o zika, e construiu um modelo das condições climáticas necessárias para ele se espalhar.

Eles estimam que mais de 60% da população de EUA, Argentina e Itália vive em áreas propícias à transmissão sazonal (só no verão, por exemplo) do vírus zika. Já México, Colômbia e parte dos EUA teriam áreas propícias para a transmissão o ano todo.

Para Isaac Bogoch, especialista em doenças tropicais infecciosas da Universidade de Toronto e que participou do estudo sobre as chances de disseminação do zika, as pessoas não devem deixar de ir ao Brasil. "Viaje ao Brasil, aproveite a Olimpíada e se divirta. Quem viaja ao Brasil deve tomar precauções para não ser picado."

Ele diz que o grupo não fez um cálculo do risco de disseminação na competição. "Dependerá de qual será o nível de infecção no Brasil durante os jogos e se haverá uma redução significativa das viagens ao país por causa do surto."

Para Bogoch, é preciso concentrar esforços para evitar uma pandemia. "Precisamos melhorar a coordenação e a comunicação entre governos e entre as agências de saúde pública. Isso envolve monitoramento, relatórios, esforço de controle de mosquitos, disponibilidade de testes de diagnósticos para grávidas e mais estudos sobre o vírus e sua dinâmica de transmissão."

Na sua opinião, é difícil saber qual o atual estágio do surto no Brasil, pois a maioria das pessoas infectadas não tem sintomas.

Em um esforço para evitar a proliferação do vírus, o governo da Papua Nova Guiné anunciou que irá monitorar viajantes que chegam de áreas onde há circulação do zika. 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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